Pessoas de Destaque: Anderson Farias

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Alegre, sorridente, falante e sonhador. Essas são as características de Anderson da Cunha Farias, nosso destaque do mês de Novembro, que compartilha para os leitores do blog do Virtual Vision sua história, sonhos e conquistas.
 
Hoje, aos 39 anos, ele conta sua trajetória e desafios como uma pessoa deficiente visual. Anderson nasceu com Glaucoma – *O glaucoma é uma doença ocular que provoca lesão no nervo óptico e campo visual, podendo levar à cegueira. Na maioria dos casos, vem acompanhado de pressão intraocular elevada, mas pode ocorrer glaucoma de “baixa pressão” e perdeu completamente sua visão aos sete anos. “Eu fiz uma série de cirurgias no inicio dos anos 80 para tentar corrigir esse problema e acabou não dando certo e, então, em mais ou menos, no ano 86/87, eu me tornei completamente uma pessoa cega.”
 
Assim como muitos que passaram ou estão passando por esse problema, Anderson diz que nos primeiros anos foi muito difícil à adaptação e, por isso, foi alfabetizado em uma escola para cegos, no Instituto Padre Chico, o que tornou a caminhada um pouco menos dolorosa em relação às descobertas dos primeiros anos e o possibilitou prosseguir mais tarde no sistema educacional convencional e, posteriormente, em uma Universidade.
 
Anderson é graduado em Gestão de Eventos, pela Hotec, o que despertou ainda mais seu desejo de trabalhar com música e festas, algo que, segundo ele, sempre esteve dentro de si. Uma paixão antiga e que floresceu com os estudos. “Na verdade, eu sempre gostei muito de música, sempre fiz coleção de discos de vinil, frequentava o centro de São Paulo, as grandes galerias que tinham lá, como a famosa galeria do Rock e outra que era especializada em música eletrônica. Eu sempre frequentei ali aqueles espaços e isso ficava na minha cabeça.”
 
Anderson relembra, sorrindo e muito empolgado, a primeira vez que se viu num cenário totalmente voltado para música, em 95, participando de um campeonato para Dj. “Nossa, foi demais, que emoção”, conta.
 
Para complementar a renda, trabalhava no regime CLT durante a semana e aos finais de semana se dedicava ao que o fazia se sentir completo: a música. “Eu resolvi fazer Gestão de Eventos justamente para aprender mais a parte administrativa, para compreender mais como é que funcionava essa parte de negócios, de festas e de eventos. E dali, então, eu resolvi empreender mesmo.”
 
Despertando novas habilidades
 
Com tantas responsabilidades profissionais e uma vontade incansável de sempre ir além, Anderson descobriu uma forma de compartilhar toda sua caminhada e conquistas com outras pessoas, que, assim como ele, precisam, muitas vezes, se reinventar no mercado de trabalho, por preconceito, ou, simplesmente pela falta de informação de muitas pessoas e organizações.
 
“Não sou palestrante, eu me tornei palestrante. Foi uma habilidade que eu consegui durante o tempo em que eu fui CLT. As palestras eram voltadas para as áreas de tecnologia assistiva (Recursos tecnológicos que dão mais autonomia, independência e qualidade de vida a pessoas com deficiência visual), falávamos sempre do Virtual Vision e como essa ferramenta poderia ajudar a pessoa cega a entrar no mercado de trabalho, então foi nesse momento que eu comecei a aprender falar em público. Depois começaram a me encarar assim Nossa, você é uma pessoa que se superou. Você é uma pessoa empreendedora, então você pode falar disso ou daquilo.”
 
Foi assim que ele conseguiu usar a paixão pela música com as novas oportunidades em compartilhar sua história com outras pessoas. “Tem algumas dinâmicas que eu faço para engajar e motivar o público, ai eu uso a música como aliada.”
 
Ufaaa! Muitas tarefas, certo? Acha que para por ai? Não. Anderson despertou em si uma vontade de ensinar, em compartilhar seu conhecimento para outros deficientes visuais. “Na faculdade eu tinha contabilidade como disciplina, onde eu aprendi sobre captação de recursos. Então comecei a transmitir esse aprendizado a outras pessoas que não enxergam, ensinei a elas a arte de discotecar, apoiado por uma lei de incentivo à cultura.”
 
Outros sentidos
 
Além do Anderson Profissional, existe o pai de família com responsabilidades iguais a de qualquer pessoa. Casado com Camila Harumi, também deficiente visual e pais de Gabriel, que hoje tem 4 anos (sem problemas de visão) ele conta sobre a tarefa mais difícil até então: educar seu filho. Não pela limitação física, mas pelos cuidados que toda criança requer.
 
Anderson com seu filho Gabriel
Anderson e seu filho Gabriel
 
Só com muita criatividade para driblar todas as adversidades que podem aparecer na tarefa de educar. E, por isso, foi necessário também explorar os outros sentidos, ou seja, tato, olfato, audição e paladar. Os dois vão aprendendo e descobrindo juntos. “A convivência com o Gabriel já foi bastante complicada. No começo aquela fase que a criança só tem um tipo de comunicação: o choro. Mas isso é para qualquer pai que tenha ou não tenha deficiência, qualquer pai vai ter que adivinhar o motivo do choro, se é dor de barriga, febre ou incomodo. Na verdade com o tempo a gente foi aprendendo a decorar os timbres de choro que ele tinha.”
 
Hoje, os dois já conseguem driblar melhor essas questões, afinal, a Camila teve que ir desenvolvendo alguns “truques” de mãe para cuidar do pequeno Gabriel.
 
Sobre a percepção de Gabriel em saber se os pais não enxergam, Anderson diz que ainda não consegue saber. “Hoje, que o Gabriel já tem quatro anos, eu acredito que ele não sabe completamente que a gente não enxerga, porque é transparente para ele, é comum, ele sempre viu que a mamãe e o papai dele falavam: olha, Gabriel, deixa o papai ver, daqui aqui na minha mão. Então acho que ele foi se acostumando e vai assimilando.”
 
Anderson diz que enxergou até os sete anos, o que o auxilia, de certa forma, a ajudar na educação do pequeno Gabriel. “Eu cheguei a escrever, então eu consigo interagir um pouquinho com ele nesta parte, porque ele está aprendendo. Agora, às vezes vendo um desenho, um filme, por exemplo, ele fala: ah, aconteceu tal coisa, pai. Ai a gente não consegue participar porque nem tudo tem áudio descrição, então quer dizer, às vezes a gente perde alguma coisa e ele quer saber por que determinada coisa aconteceu, e eu não vi a cena. Mas a gente interage brincando, do nosso jeito.”
 
Acessibilidade
 
Para Anderson muitas coisas mudaram, para melhor, em termos de acessibilidade. Hoje ele consegue ter uma vida normal, sem limitações, pelo auxilio das novas tecnologias.
“Eu tenho um App no celular que me ajuda, a saber, por exemplo, a cor desta minha camiseta, que cor seria o tampão desta mesa, as roupas que eu posso combinar. Tem também alguns Apps que prometem que você consiga mapear um caminho”, conta.
 
Segundo Anderson, diferente dos anos 90, onde não se tinha acesso à tecnologia, hoje ele consegue fazer tudo. “Antes eu tinha dificuldade até para sair, queria sair à noite, queria fazer festa, mas era muito estranho e raro você encontrar um deficiente visual nos lugares. Hoje em dia se lida muito melhor com essa questão da inclusão.”
 
Até mesmo quando o assunto é educação, para ele muita coisa aconteceu. “Os deficientes visuais hoje, que estão chegando às escolas – ainda há muito que se melhorar- mas eles já estão com um mundo diferente do que ao que eu vivi há 20 anos”, completa.
 
Muito bem humorado, Anderson contou que possui muitos projetos que deseja colocar em prática e que, se depender dele, logo terá muitas novidades para compartilhar.
 
É importante acreditar nos sonhos. É verdade que você sendo, ou não, uma pessoa com deficiência, você vai encontrar gente que não vai te incentivar e outras que vão. Pode parecer que para a pessoa com deficiência, isso sempre será pior, que ninguém vai te ajudar. Eu sempre penso e digo, acredita em você, sempre acredite em você. Steve Jobs fez o que fez porque ele acreditou nele, pense nisso.
 
Pingue Pongue
 
Atividade favorita: Ficar em casa na companhia da família.
Maior vitória: Ter conseguido financiar um imóvel.
Um sonho: Viver integralmente de arte.
Um medo: Não ter tempo de realizar tudo que deseja.
Defina-se em uma palavra: Persistente
Um livro: Vale Tudo – o Som e a Fúria de Tim Maia.
Um lugar: Minha casa.
Uma frase: “Se você quiser alguém em quem confiar, confie em si mesmo.” Renato Russo
 
*www.cbo.net.br

Confira o Vídeo:

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Ícone de acessibilidade em meio a um ambiente tecnológico
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