Pessoas de Destaque: Markiano Charan Filho

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Presidente da ADEVA compartilha trajetória de sucesso e determinação
 
Nosso entrevistado do mês de julho realmente é uma pessoa que merece destaque. Falante, articulado e extremamente bem humorado, Markiano compartilhou um pouco de sua história e mostrou sua dedicação e alegria ao contar suas vitórias ao longo da vida.
 
Hoje, com 53 anos, formado em Letras (língua e literatura inglesa) pela PUC-SP é o atual diretor-presidente da Associação de Deficientes Visuais e Amigos (ADEVA), onde cita com muito carinho por ser o local que lhe proporcionou muitas conquistas e o ajudou na inserção no mercado de trabalho e como pessoa com deficiência visual.
 
Markiano nasceu prematuro e a perda de visão, segundo ele, ocorreu na incubadora, devido a um excesso de oxigenação. Ele conta que teve uma infância normal, como qualquer outra. “Brincava quando criança, apanhava quando eu tinha que apanhar, me alfabetizei na idade normal de toda criança e frequentei uma escola comum que tinha salas de recursos (salas onde o aluno estuda com outros alunos sem deficiência e que possuem suporte de uma professora especializada no ensino do braile para ajudar no que for preciso).
 
Já no ensino médio, entrou na escola Técnica Federal e foi o primeiro aluno com deficiência visual a entrar na instituição. “Naturalmente houve resistência, mas eu me impus. Para entrar na escola, o que se exige é que se passe numa prova. Eu passei nessa prova e, se eu passei, é porque eu tinha condições de frequentar. E ouve uma série de adaptações, principalmente com os desenhos técnicos que eu tive que me adaptar, mas tive ajuda de colegas, inclusive de fora da escola, outras pessoas com deficiência que haviam superado essa fase”, comenta.
 
Mercado de trabalho
 
Ele conta que, naturalmente, como toda minoria, também sentiu preconceito ao longo da vida por conta da desinformação da população em relação ao potencial e as possibilidades de uma pessoa com deficiência. “Uma das principais barreiras ainda é a inserção no mercado de trabalho, ou talvez a mais difícil. Eu acredito que no Brasil, as pessoas com deficiência, de modo geral, enfrentam dificuldade, por isso, é muito importante conscientizar as pessoas e não perder a oportunidade. Por exemplo, hoje, como estamos fazendo aqui, isso é de extrema importância para conscientizar as pessoas, seja nas oportunidades que nós temos de aparecer na mídia ou por diversos meios. A conscientização das pessoas é determinante para termos uma população mais bem informada”, informa.
 
Para Markiano, o acesso das pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho, ainda é um desafio para todos. Muitos falam que é mais fácil empregar uma pessoa com deficiência física, ou até mesmo com deficiência intelectual, mas quando chegam à pessoa com deficiência visual, não sabem o que ela pode fazer, como ela pode trabalhar. “Ainda existem muitos mitos em relação a isso, as pessoas ainda fazem perguntas do tipo : Eu vou ter que levá-lo para almoçar? Eu vou ter que levá-lo ao banheiro? Eu vou ter que levá-lo para pegar ônibus? Ele pode descer e subir escada? Minha empresa tem degrau. E agora? Então são esses mitos que nós temos que derrubar. A inserção da pessoa com deficiência visual no mercado trabalho ainda é um desafio, e eu acredito que essa colocação seja uma corrente. Depende das pessoas com deficiência visual, propriamente ditas, na vontade de ir para o mercado de trabalho, depende das escolas e das entidades em capacitar essas pessoas, depende das empresas em querer recebê-las e ter disponibilidade para isso, depende das empresas desenvolvedoras de softwares para construírem sites acessíveis para as pessoas poderem trabalhar. Enfim, são inúmeros fatores”, afirma.
 
Hoje, mesmo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência que é destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania, muitos, infelizmente, por falta de informação não agem como deveriam, o que prejudica a busca por igualdade.
 
Para o Presidente da ADEVA, é muito importante também que as pessoas com deficiência visual saibam desses direitos e, mais do que isso, que elas se conduzam de uma forma adequada para garantir esses direitos. “Então, o que elas precisam fazer? Elas precisam aprender a assinar, precisam fazer cursos de assinatura, precisam aprender a escrever, fazendo uso de uma caneta, para que elas não sejam tratadas como pessoas analfabetas, pessoas incapazes. Então é importante sim ter o direito, mas é importante que as pessoas com deficiência visual façam sua parte, colaborem para isso”, aconselha.
Antes de termos uma deficiência, somos pessoas. E como pessoas, nós podemos muito mais. Somos muito mais que corpos que andam, que comem. O que há dentro de nós, o nosso espirito, ele pode muito mais. Então, não é uma deficiência que vai parar os nossos sonhos, somos nós que escolhemos parar ou continuar, essa escolha é nossa. Não culpe a deficiência porque não conseguiu alguma coisa, tenha vontade e determinação para seguir em frente, e isso não depende de nenhuma deficiência.
 
Muito mais e além
 
Com muitas ideias e sonhos para conquistar e oferecer um mundo melhor para pessoas com deficiência visual, Markiano é apaixonado por escrever e usa desse dom para levar informação à população desde a época da escola. Ele conta com muito orgulho de seus três livros publicados: “Rodrigo enxerga tudo”, “Rodrigo bom de bola” e “Rodrigo na era digital”. As edições levam conhecimento sobre a inclusão de crianças cegas na escola, no esporte e com as novas tecnologias. Mas não para por ai, além dos livros, Markiano viveu a experiência de escrever textos para musicais e peças de teatro.
 
Para poder dar vida a esses projetos e em sua rotina de trabalho diário, Markiano compartilhou sobre a importância da tecnologia. Para ele, o uso dessas ferramentas abriu um leque de oportunidades para pessoas com deficiência visual. “Se uma pessoa antes tinha dificuldade, por exemplo, de escrever uma carta, hoje, ela pode utilizar o computador, fazer a carta no editor de texto, imprimir e enviar. Mandar um e-mail para uma pessoa com deficiência visual, é algo extremamente simples, até mesmo com smartphones. Chamar um táxi e consultar o saldo no banco também são coisas simples, desde que esses sites e aplicativos sejam acessíveis”.
 
Para ele, o uso da tecnologia e contar com ambientes acessíveis, proporciona uma independência fundamental, além de garantir autonomia das pessoas com deficiência, seja ela qual for. “Entretanto, não podemos esquecer do nosso sistema de escrita e leitura que é o braile. A tecnologia, ao contrario do que muitas pessoas pensam, não substitui o braile. Além disso, é importantíssimo que a pessoa com deficiência visual tenha a ortografia correta, escreva corretamente, isso é um cartão de visita para o sucesso profissional e pessoal dela”, conclui Markiano.
 
Pingue pongue
 
Atividade favorita: escrever
Maior vitória: superar as dificuldades
Um sonho: um mundo melhor para as pessoas com deficiência visual
O que o deixa triste: Egoísmo
Um medo: ter uma segunda deficiência
Defina-se em uma palavra: paciência
Um livro: virando a própria mesa (Ricardo Semler)
Um lugar: uma colina com agua correndo, onde se possa descansar
Uma frase:Se queres colher a curto prazo, plante cereais. Se queres colher a longo prazo, plante árvores frutíferas. Mas se queres colher para a vida inteira, treine e eduque o homem.”
 
Confira abaixo o vídeo com a entrevista de Markiano Charan Filho:

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