Pessoa em Destaque: Danilo Namo

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Psicólogo e Doutor em Educação Especial conta sobre a inclusão de pessoas com deficiência visual na sociedade
 
Danilo Namo, 46 anos, é Mestre em Psicologia, Doutor em Educação Especial, atualmente trabalha como técnico do Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (CAPE) e mantém uma empresa de consultoria de inclusão educacional e econômica para a inclusão de pessoas com deficiência.
 
Assim como a grande maioria dos brasileiros, Danilo enfrentou muitas barreiras para conseguir alcançar o sucesso profissional e pessoal. Ele nasceu com catarata congênita e, por esse motivo, perdeu a visão do olho esquerdo aos seis meses de vida. No entanto, a acuidade visual de seu olho direito foi suficiente para que ele se desenvolvesse e não necessitasse de nenhuma tecnologia assistiva e levasse uma vida sem nenhuma restrição ou adaptações no que diz respeito à visão.
 
Aos 17 anos, devido a um pequeno acidente, um deslocamento de retina e sua história pregressa de catarata, Danilo perdeu praticamente todo resíduo visual que tinha no olho direito, ficando apenas com 5% de visão. Dessa forma, passou a ser um adolescente com deficiência visual.
 
Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Art.03. Deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores.
 
Segundo ele, foi então que um novo mundo se abriu. Namo precisou aprender orientação e mobilidade, braile e, assim, concluir o ensino médio. Ingressou na faculdade de psicologia em 1992 e em 1995 iniciou sua vida profissional com educação inclusiva na Secretaria de Educação.
 
Rotina de trabalho
Nosso dia a dia é exaustivo devido a muitos contratempos, para pessoas com deficiência visual que precisam, de certa forma, contar com a ajuda e boa vontade da população, tanto para a sua locomoção, tanto para algumas tarefas gerais, passa a ser ainda mais difícil. Contar com a inclusão, por parte do governo, também é um direito – e é exatamente ai que Danilo auxilia outras pessoas, que assim como ele, também precisam de orientação na busca por igualdade.
 
Namo conta que na Secretária de Educação, o Núcleo de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE) é responsável por incluir os alunos com deficiência na rede pública Estadual. “A gente cuida desde a proposição das políticas públicas de educação especial na secretaria de educação, portanto como que a gente vai incluir, que tipos de apoio vai oferecer, de que forma esses apoios vão chegar aos alunos, até o monitoramento disso”.
 
Já em sua empresa de consultoria, Danilo explica que ajuda algumas corporações para que elas sejam apoiadas na inclusão das pessoas com deficiência. “Eu vejo que, ainda, algumas empresas se fundamentam muito no cumprimento da legislação. Existe uma legislação que obriga as empresas, acima de 100 funcionários, contratarem pessoas com deficiência, acho que todos conhecem a famosa lei de cotas*. O fato é que essas empresas querem cumprir a cota e acreditam que basta colocar a pessoa lá dentro, decorar algumas regras de convivência, que a inclusão está feita. Na minha percepção não é isso a inclusão efetiva.
Ela será efetiva quando a gente entender, quando as empresas entenderem, na verdade, todos nós como sociedade, que as diferenças são o que,de fato, fazem com que sejamos o que somos: seres humanos. Não é o igual, é o diferente. O diferente não deveria ser encarado como algo a ser superado, a ser padronizado. Quanto mais o Danilo que não enxerga parecer comigo, mais eu vou me sentir à vontade para lidar com ele”, comenta.
 
Ele conta que durante sua trajetória, não sentiu muito preconceito, pelo menos, não explícito. “Nunca ninguém me recusou apoio, ajuda ou emprego, até porque, o meu emprego eu consegui como estagiário na Secretária de Educação, depois eu passei no concurso público”.
 
Danilo diz que as dificuldades existiram e ainda existem. “Na verdade, existiram porque como não era comum uma pessoa com deficiência visual numa empresa, hoje em dia já é bem mais, obviamente. Quando eu entrei, em 1995, não era tão comum, então nada era preparado para que a gente pudesse ter acesso, claro que a informática estava nos primórdios. Inclusive o Virtual Vision me ajudou absurdamente nesse momento, porque o Virtual Vision foi o meu primeiro sintetizador de voz, mas era o início da informatização, dos procedimentos de trabalho, então tudo era muito difícil ter acesso às informações, as poucas coisas que eram no computador, muitas vezes, elas não eram acessíveis e ainda hoje acontece isso”.
 
Acessibilidade no Brasil
Namo compartilha que são muitas barreiras no dia a dia. As obvias, segundo ele, são as barreiras arquitetônicas, querer, por exemplo, comprar um ingresso pela internet e o site não ser acessível, ainda assim, se conseguir comprar, ir até o local do espetáculo e não ter as condições de acessibilidade. No caso de uma pessoa com deficiência visual, Danilo explica que não é barra, não é rampa, necessariamente, mas o piso podotátil, audiodescrição, ter no elevador a botoeira em braile e sintetização de voz que anuncia o andar. “Então essas condições de acessibilidade, onde a falta de acessibilidade existem, obviamente nos atrapalha demais, mas fundamentalmente, eu acho que a grande barreira que a gente ainda enfrenta, é a barreira atitudinal e essa barreira ela não é uma barreira travestida de preconceito, é um pouco difícil de explicar, mas é a falta de informação, na verdade”.
 
Para ele, tem melhorado bastante essa questão, ao longo dos anos. “Já faz 30 anos que eu tenho deficiência visual e, nestes 30 anos, muita coisa mudou. Era impossível antigamente se encontrar um cardápio em braile, hoje não é impossível. Não é comum, mas não impossível. A legislação no nosso pais, eu não sou jurista, eu não sei falar tecnicamente, mas a legislação sobre acessibilidade, sobre inclusão econômica educacional no nosso país, ela é muito avançada. A gente tem no Brasil a lei brasileira de inclusão que também nos garante muitos direitos, a lei de cotas, a lei de diretrizes e base educação, que tem um capítulo exclusivo para inclusão educacional para pessoas com deficiência e mais um monte de leis paralelas que reforçam essa legislação educacional. Então assim, a gente está muito preparado legalmente para inclusão e ela tem de fato acontecido. Mas obviamente como foram décadas, séculos, eu ousaria dizer até mesmo milênios de história, é claro que tem muita coisa a ser feita”.
 
O tempo passou, a tecnologia avançou e as pessoas com deficiência visual encontraram no campo digital um grande recurso para o dia a dia. Estamos, no geral, cada vez mais dependentes de nossos dispositivos móveis e de inúmeros aplicativos que fazem as tarefas cotidianas tornarem-se mais simples.
 
“Pelo computador e pelo celular, basicamente, a gente tem acesso a dezenas de atividades e no celular você consegue olhar e escrever e-mails, consegue até fotografar. O celular hoje em dia fala e dá noções básicas de como está o cenário na sua frente, você consegue ter um despertador, relógio, termômetro, uma infinidade de recursos que a gente não teria sem a tecnologia, isso estou me referindo ao celular. Quando a gente senta numa mesa e vai trabalhar no computador, esses recursos até se multiplicam”, informa Danilo.
 
É claro que alguns sites ainda não acessíveis, mas, em sua maioria e grandes portais, são. Para Danilo, essa questão, com certeza, mudará com o tempo. Estamos evoluindo, mas falta muito para a vida perfeita.
 
Experiência compartilhada
Segundo informações divulgadas pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), hoje, no Brasil, há mais de 1,2 milhão de cegos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que entre 60% e 80% dos casos de cegueira são evitáveis e/ou tratáveis. Isso significa que quase 700 mil brasileiros que são cegos poderiam estar enxergando se tivessem recebido tratamento adequado e a tempo. Assim como Danilo, muitas pessoas perdem a visão ao longo da vida, tornando, assim, mais difícil a aceitação. Sabemos de todas as dificuldades e as questões de acessibilidade em nosso país, por isso, orientação de entidades e, até mesmo, pessoas que já passaram por essa situação, é um caminho que pode tonar essa realidade mais leve.
 
“Uma questão muito relevante, que permeou muito a minha vida nesses anos, com quase 30 anos de deficiência visual e 46 anos de vida, é saber colocar as coisas no seu devido tamanho. Eu acho que a deficiência visual e a vida de uma pessoa com deficiência visual tem que ser encarada conforme os desafios vão surgindo. Portanto, tem que encará-los com o devido tamanho que esses desafios aparecem, sem superestimar e nem subestimar, cada passo no seu momento, cada desafio com a altura que ele tem para ser superado. Essa é fundamentalmente uma regra que eu sigo”, compartilha.
 
Ele explica que encara a vida desta forma não só em relação à deficiência visual, mas em tudo. “Eu tenho a convicção que todos nós temos um espaço. Esse espaço não é algo dado, é preciso conquistar e aí independe se a gente tem deficiência ou não, tem que se esforçar. É preciso pensar que tem muita coisa para conquistar”, completou.
 
*Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
I – até 200 empregados……………………………………………………………………………….2%;
II – de 201 a 500…………………………………………………………………………………………3%;
III – de 501 a 1.000……………………………………………………………………………………..4%;
IV – de 1.001 em diante. ……………………………………………………………………………..5%.
 

Confira abaixo o vídeo com o depoimento do Danilo Namo:

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