Na busca pela diversidade e inclusão social

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Promover a diversidade e inclusão dentro das organizações é pauta para muitos debates e reuniões de planejamento. No Brasil, poucas empresas inserem essa questão em uma agenda estratégica. Para quem luta por essa causa, o tema não fica apenas no discurso e, sim, colocado em prática. São inúmeras as razões para esse descompasso em algumas corporações, mas a principal, com certeza, ainda é a falta de informação.
 
Para Guilherme Bara, gerente de Relacionamento e Diversidade da Fundação Espaço ECO®, organização instituída pela BASF, a maioria das pessoas não conhece a realidade, as potencialidades e as ferramentas que estão à disposição para facilitar e incluir a pessoa com deficiência no mercado de trabalho. “Acontece que a maioria das pessoas quando se depara com uma pessoa com alguma deficiência, foca naquilo que está mais escancarado, que é a deficiência em si, costumam relacionar a deficiência com incapacidade”.
 
Guilherme, que tem 39 anos, formado em administração de empresas, com MBA em Gestão de Projetos, é deficiente visual devido a uma Retinose Pigmentar (refere-se a um grupo de doenças hereditárias, que causam a degeneração da retina, região do fundo do olho, responsável pela captura de imagens a partir do campo visual), é um exemplo para pessoas que, assim como ele, buscam por igualdade.
 
“O meu processo de perda de visão foi lento e gradual, então, na verdade, os primeiros indícios da perda da visão começaram aos 4/5 anos, mas a queda mais acentuada foi dos 13 aos 15 anos. No começo eu sentava mais no fundo da sala, ai quando eu voltava das férias eu sentia a necessidade de sentar um pouquinho mais perto e mais perto, até que eu sentava na primeira fileira. Então a perda foi muito gradual, pouco a pouco”, conta Bara.
 
Mercado de trabalho
 
Guilherme conta que sua inclusão profissional teve muitos obstáculos. “Eu enfrentei varias resistências, muitas dificuldades, às vezes invisível, porque nunca as pessoas falam: olha, não vou te contratar porque você tem deficiência visual. Elas falam: você não tem o perfil da vaga. Então não tinha como me defender, porque as pessoas se apoiam em outras justificativas e, não, na sua deficiência e na falta de conhecimento para contratar.”
 
Por essas e outras barreiras, Guilherme hoje é extremamente engajado na causa e na busca por igualdade de forma integral, dentro e fora das organizações, para que esse desconhecimento se torne cada vez menor, certificando-se de que qualquer forma de diversidade seja abordada com respeito.
 
Há um grande processo de aprendizagem e informação para que todos se conscientizem e transformem o local de trabalho em um ambiente inclusivo que valorize a diversidade, mas para isso é preciso começar. “Hoje eu atuo na Fundação Espaço ECO® com desenvolvimento sustentável e sustentabilidade aplicada e temos a diversidade como um dos pilares desse desenvolvimento sustentável. Promovemos eventos, discussões, assim como o suporte para empresas que queiram trabalhar e implementar um programa de diversidade e suas vertentes, como questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e, logicamente, a questão da inclusão da pessoa com deficiência no ambiente de trabalho”, compartilha Guilherme.
 
Apesar da pouca idade, Bara tem uma vasta experiência profissional e um currículo admirável. “Já trabalhei em algumas áreas da BASF, principalmente em áreas de negócio. Fui coordenador de Marketing e de Licitações da Suvinil (Suvinil é marca de tintas que pertence a BASF). Antes da BASF eu tive bastante experiência no setor público, cheguei a ser chefe de Gabinete da primeira secretária da pessoa com deficiência em São Paulo. Fui coordenador de Projetos Culturais da Secretaria de Cultura do Estado e tive a oportunidade de ser assessor especial do governador Geraldo Alkmin, além de atuar na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) como diretor de responsabilidade social.”
 
Guilherme, infelizmente, é uma exceção no mercado brasileiro. Mas com seu exemplo de perseverança, determinação e de profissionalismo, as corporações podem repensar sobre o quadro de funcionários, desmistificar tabus e eliminar possíveis barreiras nos diferentes processos de uma organização.
 
“O que acontece é que as empresas costumam contratar as pessoas com deficiência para as vagas da base da pirâmide. Então para quem, normalmente, tem uma qualificação melhor, se prepara para cargos melhores, a lei de cotas, não necessariamente, é uma aliada, porque na hora que o tomador da empresa tiver o desafio de cumprir uma legislação e lhe faltar conhecimento em relação ao tema, ele vai contratar uma pessoa que ganha um salario menor, pois o risco é baixo. Então, no meu caso, eu sabia que esse desafio seria grande e a BASF foi muito bacana, pois participei de um processo seletivo e eles me contrataram para ser coordenador da estratégia da Suvinil, para aumentar a participação nas classes C e D, que era um plano estratégico da empresa. Muito interessante eles contrataram uma pessoa cega para um cargo que já era quase de liderança, para trabalhar com cores, o que quebrava um paradigma. A partir daí eu fui conquistando o meu espaço dentro da empresa, até que surgiu a oportunidade de ir para a área de diversidade, mas com um escopo um pouco diferente do que as empresas no Brasil trabalham o tema diversidade.”
 
Além do tema
 
Nos últimos anos, a questão diversidade tem sido muito trabalhada por boa parte das empresas no Brasil, mas muito em função da lei de cotas para inclusão de pessoas com deficiência, o que é muito importante. Mas quando se fala em diversidade, é muito mais do que a inclusão da pessoa com deficiência. Para Guilherme, diversidade é trabalhar a qualidade nas relações entre as pessoas – e essas pessoas têm singularidades, tem características, que podem ser uma questão de gênero, questão de raça, de orientação sexual, de etnia, de gerações, mas também a diversidade de pensamentos, de olhares, histórico profissional e pessoal.
 
Além de todas essas questões, é fundamental que as organizações invistam na capacitação de gestores, equipes de recrutamento e, até mesmo, áreas jurídicas a fim de garantir um ambiente pronto para receber pessoas com ou sem deficiência. A efetividade dessas mudanças depende de iniciativas concretas dentro das organizações, por isso, é hora da transformação. Que outros Guilhermes cheguem aos cargos estratégicos, de liderança, que mais organizações ofereçam aos seus colaboradores oportunidades de trabalhar em um ambiente saudável e de qualidade, que vejam suas equipes como fatores fundamentais para o crescimento e desenvolvimento da corporação.
 
Tecnologia a favor da inclusão
 
Se falarmos sobre acessibilidade nos dias de hoje, certamente podemos dizer que falta muito para o mundo ideal. Porem, se olharmos para trás, tivemos um grande avanço, principalmente em relação à tecnologia, que hoje se faz tão presente na vida de todos.
 
O que seria de qualquer pessoa sem o acesso à internet, sem informação, sem resolver tarefas on-line que antes só seriam possíveis pessoalmente. Mas será que isso é tão simples para as pessoas com deficiência visual, mesmo com tantos avanços?
 
Infelizmente, nem todos os sites são acessíveis, o que torna muito difícil o dia a dia dessas pessoas. Neste sentido, para Guilherme, o Virtual Vision teve um papel que foi um divisor de águas na inclusão da pessoa com deficiência visual, principalmente em virtude das parcerias que a MicroPower fez. “O Virtual Vision fez a diferença entre uma pessoa que tem acesso ao conteúdo digital, ao conteúdo de um computador, e a pessoa que não tem. Para a pessoa que está nos assistindo, é só você pensar, independente de ter deficiência, como é sua vida com acesso ao computador e como é a sua vida sem ter acesso ao computador. É só toda essa diferença que o Virtual Vision, que a MicroPower fez na vida, na inclusão, no processo de inclusão das pessoas cegas.”
 
Deficiente visual sim, superar Sempre
 
Para quem busca e acredita em um mundo melhor, sem barreiras e com muita determinação, Guilheme aconselha:
 
Minha mensagem para as pessoas que, assim como eu, são cegas, ou que têm baixa visão, é que a gente tem, de fato, um desafio extra em relação ao restante da população. Não enxergar traz para gente barreiras maiores, mas eu acredito que a gente tem dois caminhos como opção frente a esse cenário, a essa nossa situação. A gente pode lamentar e ter diversas justificativas para poder lamentar, de fato, boa parte do ambiente da sociedade não está preparada para nos incluir. Existe sim a descriminação, seja ela consciente ou inconsciente, as barreiras ainda são enormes e ainda durante um bom tempo serão enormes. Se a gente ficar usando isso como justificativa, teremos sim razão em reclamar, só que talvez não vai nos levar a lugar nenhum.
 
A gente vai ter razão e vai ficar paralisado em termos profissionais e sociais. E o outro caminho é assumir que existem essas dificuldades e a gente precisa aprender a lidar com elas. Essa é a nossa condição, mas existe muita possibilidade para gente. O esforço vai ser maior, a gente vai ter sim injustiças, mas essa é nossa realidade e a gente tem que enfrentar, tendo paciência para educar as pessoas, para que as elas aprendam também a lidar com a gente. O processo de inclusão tem duas mãos. A sociedade tem que aprender a ser inclusiva e saber incluir as pessoas com deficiência, mas a gente também tem que ter atitude, tem que saber se posicionar como alguém que quer se incluído e não como alguém que quer cuidado.
 
Então talvez a minha principal mensagem, é falar que esse segundo caminho vale muito a pena, mesmo com as dificuldades, com as trombadas que a gente dá, até literalmente falando, o resultado é muito maior assim, é muito bom quando a gente pode ser reconhecido, quando você pode ser amado ou odiado pelas outras pessoas, porque ai você estar jogando o jogo de maneira plenamente, você estará pleno na sociedade.
 
Palestrante da 17⁰ edição do Congresso Learning & Performance Brasil 2017
Guilherme Bara foi um dos palestrantes da 17º edição do Congresso Learning & Performance Brasil 2017, que aconteceu no dia 28 de Agosto, no Renaissance Hotel São Paulo. Ele participou do Fórum “Diversidade Humana”, com o tema “Programa de Capacitação e Empregabilidade para Deficientes Visuais”.
 
Confira o vídeo com a entrevista de Guilherme Bara para o blog do Virtual Vision:


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