Sabe aquela frase “Você
nunca sabe a força que tem, até que a sua única alternativa é ser forte”? Pois
é, ela se encaixa exatamente na vida do programador Luiz Eduardo Porto Mariz de
Oliveira. Aos 49 anos e atual morador de São Caetano do Sul, ele é um exemplo
claro de superação para todas as pessoas que, assim como ele, lutam contra
alguns obstáculos devido à falta de visão.
Foi aos 19 anos que Luiz viu
sua vida passar por uma grande transformação quando descobriu uma doença nos
olhos: Retinose Pigmentar. A patologia é conhecida
por causar degeneração na retina, responsável pela captura das imagens
que são levadas para o cérebro. A enfermidade é progressiva e Luiz teve a perda
total da visão aos 23 anos. A situação poderia levá-lo a desistir de todos os
objetivos e conquistas que um jovem nessa idade tanto almeja, mas com ele foi
diferente. “Um dia eu andava de moto e no outro não conseguia mais. Eu ia a pé
até o shopping e depois não conseguia mais, precisava da ajuda de alguém. Cada
dia eu ia perdendo um pouquinho. Até que chegou uma hora e eu pensei: Luiz,
você precisa parar de falar que você é incapaz e, sim, focar só no que você é
capaz de fazer. E foi assim que eu fiz e funcionou. Então, é preciso ver o
potencial que você tem e não a dificuldade, pois ninguém nesse mundo está
preparado para nada, enxergando, ou não”, contou.
Luiz lembra que quando mudou
para o ABC Paulista, já não enxergava mais. “Eu nunca vi fisicamente a cidade de São Caetano do Sul, mas eu imagino como se eu já tivesse visto, pela memória visual que eu crio em todos os lugares que eu entro, praticamente eu fantasio as imagens. Mas acho que isso é normal, porque eu já enxerguei. Às vezes o cérebro faz essas ‘sacanagens’ com a gente, eu nunca sei se eu já vi, ou se estou criando certas imagens”, compartilhou.
Vencendo os obstáculos
Certas situações parecem corriqueiras e simples para a maioria das pessoas, mas para uma pessoa com deficiência visual, tudo se torna mais difícil. Até o transporte público que na teoria seria algo mais acessível, é motivo de muita dor de cabeça. E foi exatamente nesta dificuldade que Luiz encontrou uma solução que poderia beneficiar muitas pessoas.
Após ficar tentando “parar” um ônibus na principal avenida de São Caetano Do Sul, ele percebeu uma grande lacuna para tornar o transporte público mais acessível. Foi então que ele pensou em desenvolver um aplicativo que atendesse as necessidades de informação dos usuários de ônibus. “Eu fiquei pensando que se eu soubesse onde estão os ônibus e que horas eles chegariam, eu não precisaria ficar parado por tanto tempo aguardando e fazendo sinal para tudo que passa”, afirmou.
E assim, em 2014, nascia o CittaMobi Acessibilidade, Aplicativo que dois anos mais tarde ganhava o prêmio de melhor App para transporte público e que hoje já atende 40 cidades brasileiras.
Ao lembrar-se de sua trajetória, Luiz conta que é motivo de muita satisfação ver seu trabalho oferecer independência para tantas pessoas. “Os melhores aplicativos são aqueles que você faz para o seu uso pessoal, que te ajuda em alguma dificuldade. No inicio, CittaMobi Acessibilidade foi para sanar uma dificuldade minha e ai foi implementado para todos. É muito importante enxergar, mas quando você não enxerga, você consegue também fazer muita coisa, sua criatividade faz você se virar muito bem”, explica.
Mercado de trabalho
Mesmo com a lei vigente Nº 8.213/91, conhecida como lei de cotas, que torna obrigatória a contratação de pessoas com deficiência, a realidade é bem diferente. Além de não oferecerem acessibilidade na web, conforme a Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei 13.146/15), algumas corporações não estão preparadas para contratar funcionários com certas limitações. Na verdade, é preciso quebrar algumas barreiras e desmitificar alguns preconceitos para a inclusão de fato. A partir no momento que a empresa consegue ver o colaborador com deficiência como igual, em todas as hierarquias, o real significado de inclusão social estará claro para a sociedade, praticando assim, a cidadania.
Luiz conta que em algumas palestras que costuma participar, ele interage com os participantes fazendo algumas perguntas, mas as respostas são as mesmas. “Eu questiono, por exemplo, vocês conseguem se imaginar sentado durante oito horas por dia trabalhando? A maioria das pessoas responde que sim. Então se você for um cadeirante, não vai fazer a menor diferença. E oito horas sem falar com a pessoa ao lado? Novamente a maioria das pessoas responde que sim. E sem enxergar? Todas as pessoas responderam que não conseguiriam. E então quando você fala de problemas de trabalho quanto a isso, como é que você vai contratar alguém que você se julga na posição em que ela está, em ser cego, um completo incapaz? Porque você estaria sendo incapaz se não enxergasse, então isso limita muito”.
Pensando sempre em melhorar seu dia a dia e de outras pessoas que passam pelas mesmas dificuldades, Luiz diz que sua cabeça não para, está sempre criando e planejando novas ideias. “Uma coisa que me ensinaram quando trabalhei aqui na MicroPower, durante o desenvolvimento do Virtual Vision, foi que se você tem um problema, não se pode focar nesse problema e, sim, na solução. É isso que eu levo. Se algum obstáculo acontecer, o veja como uma oportunidade”.
Com essa determinação e força de vontade que ele planeja novos rumos em parceria com sua esposa, que também possui deficiência visual. Além do CittaMobi, eles desenvolveram há alguns anos o Braille Creator e, hoje, conseguem oferecer materiais personalizados em braille.
Confira abaixo o vídeo com o depoimento do Luiz Eduardo: